domingo, 15 de dezembro de 2013

Ereções flutuantes


 
você caminha pelas ruas
e sente a comida ainda quente entre seus dentes
você carrega uma sacola plástica
com o chorume santo que irá curar as feridas de seu estomago
você ganha mais e mais metros de calçada a sua frente
uma criança negra ergue a mão para cumprimentar
você atravessa mais uma faixa de pedestres
de repente você lembra da peituda sentada à sua frente no restaurante
sua cueca começa a se retesar para a esquerda
você você você você você você você
você só precisa de mais algumas quadras para estar seguro em sua concha
você se pergunta para que serve um poeta
você lembra que não serve para muita coisa
então você lembra das garotas que você comeu
aquelas em que você sonhava na oitava série
cheiro de liquido amniótico
a vulva de uma garota hebraica se dilatando
você percebe que não tem mais controle algum o universo inteiro é excitante
as calçadas são uma planície eterna
espermas flutuantes luzes parasitas bananas carameladas em rodelas
e você
você continua caminhando
caminhando pelas ruas





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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O direito de sermos porcos

esta noite fodi com cinco mil vadias
nos sonhos inflamados de minha amada
sou um infame borrão de merda na calçada
o cheiro dos sedimentos de vinho já podem ser sentidos
é hora de enchermos mais um copo
até a borda e destinarmos a gota que escorre para o primeiro deus hipócrita que aceitar a oferenda
debaixo da sombra da tarde morta sentindo o cheiro de búfalos empanados tigres desdentados um enorme milk shake de tétano e miasmas
sim despertei lúcido o suficiente para ver com olhos limpos toda a sujeira em que afundo.


depois de três copos a vadia esganiçada cantando no falante parece a reencarnação da virgem maria entorpecida de cocaína berrando o salmo 74
o santos são o remédio necessário para esquecermos os dinossauros
esse é o novo hino das sarjetas
será cantando por cada boca desdentada entupida de pentelhos escorrendo aftas deus é meu melhor amigo
um mito gástrico para melhorar a nossa digestão
entre todas as traições a sua facada certeira em minhas costelas é sem duvida a que mais me faz uivar
e como bom lobo preciso de carne
correndo sob a lua ondulante  e cobrindo 20 mil parasitas sob meu pelo
simbiontes sugadores do meu e de todos os sangues do mundo

a cor mundial das bocas é o roxo da dignidade é o vermelho e da morte é o arco-íris
qualquer criatura que desafiar tal proclamação deve ter seus órgão extirpados em lentíssima câmera lenta
olhos pesados de areia enxofre carne mal passada milho e massa sem sal
eu amo apenas sua ausência
sua presença me transferem faculdades de nojo que me imbuem das mais fundas vontades do cometimento atroz
nascemos para lutar até os joelhos assarem na areia seca do asfalto
todas as piadas já foram contadas e manipuladas
preciso ser amado para apenas detestar o que me convêm
preciso de uma prova maciça de quantas vezes já cai em terra já que minha memória parece estar mais furada que um pedaço de queijo
sinto fome, mas não ouso me alimentar
pois tudo tem aquele cheiro romano ancestral de veneno e traição





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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

P.lotas

o grande problema do homem é a beleza e a curiosidade
se não fosse pela curiosidade eu não teria acabado de por queijo ralado em cima dos meus ovos fritos
meleca gangrenosa
tive que abortar a missão e me contentar com umas bolachas velhas de milho
água da torneira jorra marrom
essa cidade é um pântano pavimentado
um monte de pedra boiando em cima de lama e peidos
o reino fungi se reproduz ate nas gavetas de minhas cuecas
travestis varrem as calçadas com urina enquanto universitários bêbados e vadios brincam de estudantes
zéfiros quebrou mais trinta e oito guarda chuvas pela cidade hoje
comeu três rapaduras de leite
e corrompeu uma ninfeta adolescente
ainda faltam oito para às vinte e quatro
e a província uiva tentando se manter viva




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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

bancos



skatistas sapatas cachorros pulgas vagabundos mendigos sorvetes grama brisa nuvens
vícios certezas asco degraus velhos algodão doce pedófilos fontes
eu como uma amoeba estarrada num banco habitado por palavras obscenas de errorex
procurando encontrar a musa petrificada para compor a grotesca obra
rindo para o nada
as risadas para o nada são as melhores
não há melhor plateia do que o vento
não há melhor remédio do que sentar a bunda sobre a ferrugem e vadiar em silêncio sem relógios sem motivos comigo mesmo ao fim de tudo



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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Tosse



os ratos procuram água
bullshit
a falta que me faz aqueles olhos
a amarga sinfonia martelando cada átomo de meu crânio
sentindo o cheiro de comida ao meio dia
impossível comer com esse enorme pastel quase inteiro boiando em vodka no estomago
as ruas pedem clemência
estão incertas quanto as suas finalidades
planejo o mundo
mas herdo infernos
as hordas doentias se levantam para atormentar o  cansado Noel

dei espaço para  os pensamentos se resfriarem
eles fervilharam como bolas de carne numa panela sem óleo
o atrito fátuo do improvável com o impossível

meu xarope para tosse parece chegar ao fim
ainda tusso como um velho caquético melado numa fralda geriátrica
o cansado argumento de quem precisa gritar
bolas em chamas
a repetição da estranha verdade
o porque de não dizer adeus
o rompimento umbilical de meu ego
o mundo é uma vadia grandiosamente ingrata




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sábado, 21 de setembro de 2013

Ahhhhhhh!



Isso?
foi um suspiro gigante
existir pesa que nem uma puta obesa sentada no meu pau
morfina e a Iugoslávia
o porteiro foi tirar uma soneca safada
perdeu a hora
e destruíram o palácio
campos e brasas de meu hedonismo fazendo cócegas nos pés
o cansado oeste sente saudades de tanto sangue
adeus malaios
bife à parmegiana
nos braços do sono e dessa garrafa de plástico agora me entrego
joguem a chave fora.




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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Piquenique



“As pessoas precisam umas das outras não é?”
Chegaram abordando com seus terninhos e gravatas apertadas.
“É, acho que sim...”
“Sabem vocês parecem muito simpáticos, posso ter a atenção de vocês por uns minutos?”
Ela ria.
“Vai lá!”
“Vocês conhecem a nossa igreja? A irmandade sétimo dia da salvação cristalina do santo espírito?”
“Bah, infelizmente não...”
Ela ria muito. Segurava a boca para não gargalhar alto.
“Todo aquele que se arrepende de seus pecados terá o seu lugar ao lado do senhor.”
“Até se eu matar a minha mãe?”
“É... Se você se arrepender sinceramente...”
“Vocês são casados?”
“Não, ela é minha irmã, mas a gente fode às vezes, dependendo de quanto a gente já bebeu..”glup! Virei a lata.
Silêncio olhos estralados dúvida regozijando talvez estejam arrependidos preciso arrotar.
“Vai dizer que vocês nunca comeram a irmã de vocês?”... claph! Abro outra lata.
Risos amarelovermelhos.
“Isso é totalmente contra a vontade do nosso senhor...”
“Mas vocês têm irmã?”
“Eu tenho”... Falou inseguro o cachinhos dourados.
“Quantos anos?”
“Quinze.”
“Putz, quinze aninhos... Vai dizer que nunca te imaginou metendo a língua naquela pekinha loira?”
Gargalhadas estridentes do meu lado.
“Nós podemos deixar um folhetinho com vocês?”
“Aham!”
“Vamos orar por você e sua irmã.”
“Beleza!”...glup! “Ahh, pensa bem eim, quando bater o tédio. Na tua irmãzinha deitada no quarto dela com um daqueles calçãozinhos folgados bem curtinhos se revirando no lençol...”
Enrubescimento pressa perturbação melando a cueca ereção desejosreprimidos a beleza da troça.
“Que a paz do senhor esteja com vocês!”
Seguem caminhando pela grama verde apressados. É um sábado suportável e ainda temos cinco latões de cerveja fresca.




.l.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Fluídos



naquele espaço relevante
algo fluía
fluía imperceptivelmente
como porra de cavalo num vídeo zoófilo
cabeças enterradas em toucas
um livro implorava para ser roubado
o ultimo gole de cerveja me esperava paciente como um cão adestrado
toda aquela vagabundice soprava em meu ouvido
uma velha enrugada professora de francês era violentada em sua sala os livros olhavam calados tudo fluía berinjelas quentes em sua panela quadros retratos histeria sumária de sucessivas camadas de tempo a dignidade da vingança parvoíces cheiro de bergamota a lareira dançando nudez o desejo de esquecer
deixe-me entrar
deixem um espaço para a sobremesa



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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Oublier



C'est un matin cendre
Les oiseaux descendent
Vertigineusement
Je tente oublier le dejeuner du matin
J’ignore m’a vu
Elle manger
Sans une parole
Elle a mis le pain
Dans sa petite bouche
L’amour c’est une plaisanterie
La routine c’est un cancer
Odeur de pluie
Une vision du finit
oublier


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sábado, 27 de julho de 2013



Ignorar. Ali na outra esquina virando ligeiro e ouvindo as risadas de uma travesti hoje é o dia mundial das drogas das intumescências que guardam as mágoas sobras de jantar para alimentar minhas baratas para vaporizar um lindo cheiro de decomposição em meu cubículo mal focado
Ignorar. O único motivo para viver para escutar vozes alteradas para suplantar a inconsciência plural chafurde velho porco Plutarco em seu roupão um estuprador escovando os dentes em seu teto
Ignorar. Sem laudas para compor uma canção de boa noite de fraldas ensopadas tanto nojo enfeitando nossas paredes seu cinismo suas risadas de olho parado quando foi que você morreu me pergunto em cada minuto
Ignorar. Na frigideira o óleo estoura bate em minha cara a tecla desafinada do piano de Nestor a cada milésimo soprado mil moléculas apodrecendo pensando que ontem era um pesadelo piadas comparadas do que estaria por vir
Ignorar. A canção que repete todos os momentos falésias línguas desajeitadas todos os pelos que cresceram tão rápido um estrago como foice a chuva é uma farsa admito sua coragem mas lamento a conseqüência enxugue tudo em um pequeno pano sem planos apenas ignorar



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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Deixo o remorso para os pastores e suas ovelhas violentadas



 Ontem ainda embriagado, senti o peso gelado das algemas em meu pulso. E assim como Jean Genet, aquela bixa larapia dos infernos, vi um sentido indecoroso de profunda redenção, de palavras não ditas, de verdades guardadas; mordendo fungos com chorume. Amando gaivotas além do pier. Desistindo da luta e enterrando suas armas nas areias tímidas, sonolentas e sem ondas. Num enorme e nebuloso salão aberto, onde gravamos o nosso reflexo, onde se deitaram as nossas últimas risadas. 



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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Apologia a Nassar




E para macular a minha passagem pelas planícies desajustadas, cinzentas e cobertas de esterco do meu e de todos os esfíncteres do mundo, irei agora proferir a minha maldição sobre todos aqueles que se ajoelham diante de falsas promessas e ilusões.
As folhas caem e um cheiro de Cheetos sabor queijo se espalha pelas lonjuras de prédios sem brilho e sem alma.
Saudade das Ritalinas, e do tempo passado que teimava em não passar





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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Vinte e quatro metros

A noite despenca como uma cadela dopada. Você caminha desdobrando esquinas e contando lajotas. A vinte e quatro metros de uma igreja evangélica de onde ecoam hinos de louvor, uma prostituta de cabelo oxigenado dança em seu ponto roçando suas coxas grossas e gordas umas contra as outras. Pelotas vive. O mundo é lindo.
 
 
 
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sábado, 25 de maio de 2013

As províncias tão distantes



 Abelhas bestas me indagaram na madrugada. Mojitos, boletas e o bolota, tarde demais para sorrir – belo como tudo é triste, espasmos cutâneos, frases indiretas, meus pêsames pela morte de seus cães. Caim masturbando Abel.
Velociraptors não põem ovos, eles adotam filhotes de iguana. Ao meu ver as convenções humanas devem ser afogadas em grandes tonéis de vinho tinto todas as sextas-feiras.



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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Na beira do canal



O frio me consumia como uma vela
Garças voavam contra o vento
Arregaçando sorrisos de satisfação
Uma porção de arroz com lingüiça
Se dissolvia em minha bolsa estomacal
Sonhava com garotas de bocas vermelhas
E com magrelas ninfetas
De cabelos negros e voz macia
As pedras eram testemunhas mortas
De minha babaquice
Um pato negro congelava
Como minhas bolas sob as cuecas
Minha imaginação era feita
De caos
De palavras distantes
E de manteiga com orégano



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quarta-feira, 17 de abril de 2013

A sensação do infinito



Passei a chamá-la de sensação do infinito
Aqueles momentos breves em que a existência parece realmente valer a pena
Quando as palavras não faltam
E o ar dentro dos pulmões chega a ter um cheiro doce
Quando numa ilusão preponderante os pés parecem se elevar do solo alguns breves centímetros




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sexta-feira, 12 de abril de 2013

vagueando



Respirando atmosferas densas e recheadas pelo cheiro de carne estragada
A palavra delimitadora da finalidade da vida humana
Me assaltou a inconsciência com a brutal força de um orangotango histérico
As cinco letras passaram como tentáculos sulfurosos
A envolver as mais prosaicas coisas que me cercavam
Resolvi então declarar morte
A todos os vagabundos que não tem dinheiro para comprar sua própria canha
Morte aos ventres presos
Morte aos bifes duros do restaurante universitário
Morte aos hipster
Morte ao cheiro ordinário de peixe do mercado publico
Morte aos otários que conversam sobre bicicleta na hora do almoço
Morte aos sonhos de putaria interrompidos por despertadores
Morte as garotas com cara de limão
Morte aos músicos que vendem suas bundinhas sujas por vinte cinco e noventa


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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Entre dois Mundos




As calçadas carecem de mais pétalas caídas
Surtei
surtei e me sinto pleno
Entendo agora 94% dos louco do mundo
Uma casa enorme, muito eco, muito pó
E pequenas bactérias se alimentando de minha sombra
Quero casar com uma cadela de rua e dar à ela um nome de fruta
Para todos os efeitos já não sou mais humano
Algo como um parasita à minha volta me atormenta
Saudade de meus ossos quebrados
O sentido chafurda entre a distorção e o sol de todas as praias
Balanço cabeça e numa convulsão de idéias esparramadas
Vejo a imensidão de praças ocupadas por carnes e girassóis
Surtei
surtei e me sinto pleno



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domingo, 31 de março de 2013

Enquanto a água ferve




Acho que me tornei um amante dos tomates
Dos miojos
Das pequenas falhas e da falta das grandes dores
Passei a vegetar como um cacto
Pois como todo o bom ermitão
Me afundei numa poça de sacrifícios
A saudade é uma palavra morta de uma língua em desuso
Surpreendi a todos quando num ato de infanticídio declarei guerra aos berços

Tremendo pela ressaca

Vejo o excesso como uma religião
E talvez por hora só me reste rezar



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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Peixes não rezam antes de comer



Porque todas as vezes que baterem à sua porta
Alguém dirá miau
São gatos frágeis e com algumas substâncias ininteligíveis
Podemos dizer olá, talvez ou muito obrigado.
São todos derrotados de porcelana clamando por um carinho em suas nucas
Se eu fosse metade do que já fui, poderia me considerar alguém de sorte ou no mínimo de gênio.
As lontras apavoradas por calor me ofereceram abrigo em suas tocas empoeiradas
Não sei escrever; nem mesmo ver o mundo
Amando lâmpadas e alabastros espremidos.
Maçãs
Todas as maçãs nasceram com o dom de pedir clemência
Me ame matusquela seca
Sua vagina com fios de ovos são no mínimo comoventes
Um teto coberto de fuligem
Discussões, bife a milanesa, sorvete brulée
A investigação.
Ela surge do pressuposto de que se pode amamentar a verdade.
Crias forjadas na mentira de palavras incandescentes e escabrosas
Em nossa fábrica de punhetas
Eu gozo por você todas as noites
E todas as manhãs.



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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Amarcord




E só agora, na ressonância descompassada e cacofônica de sua respiração em meu ouvido é que pude entender um pedaço de minha memória, um pedaço perdido como uma torta infestada por fungos, dormindo silenciosa no fundo da geladeira. Uma fatia de mim que foi sepultada e sufocada entre imagens que antes pareciam muito mais vivas. 
Só agora, sentindo suas coxas geladas e suas mãos me envolvendo num abraço inconsciente de carência sufocante, eu pude lembrar, com clareza límpida a estranha carga imagética dos meus um tanto longilíneos dezesseis anos. Quando todas as manhãs eu era despertado pela cadela branca da família, que aprendera a abrir a porta e se aninhava em meus pés a beira da cama; num quarto excessivamente retangular, mal iluminado, fedendo a ressaca e a livros velhos de biblioteca.
 Uma afta explode em minha boca, misturando o pus aos tormentos de minha gengivite matinal, quase posso sentir a aspereza de sua pequena língua rosa lambendo meus tornozelos; quase posso ouvir os insultos abrasadores de meu pai, rompendo com força o véu dos sonhos que me acolhiam naqueles fantasiosos dias. 


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