sábado, 27 de outubro de 2012

Em algum lugar


Fragmento I
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Eu conheci muitos desses indivíduos também
Caras que cheiravam pó e conversavam sobre margarina
Caras que parasitavam em volta por goles de bebida
Aqueles que arrotavam discursos de amor livre depois de embriagados
Havia também os tipos nojentos que babavam o ovo de qualquer otário que parecesse ter opinião; esses ao menos pagavam o trago
E eu ficava ali, suportando a tudo e rezando para os vapores do álcool me tornarem
Inconsciente ou febril
E naqueles momentos em que a mesmice atingia os limites alarmantes da resignação
Minha mente explodia num acesso de cólera irracional e surpreendia a todos com algum ato suficientemente insano para que até os mais degenerados sentissem uma espécie de pudor.
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sábado, 20 de outubro de 2012

A planície branca


Esse filme começa em uma estrada
Que leva à algum lugar gelado
Passei metade da vida sonhando com lugares gelados
Confinado em uma pequena vila torrencial
Sem cor e sem cheiro algum
Onde a tristeza se abraça na conformidade
E se legitima como a forma máxima e pequena de enxergar a tudo
Depois de trinta minutos caminhando descalço
Ele percebe a beleza de um animal morto abatido pelo tempo
E como o mártir da compreensão ele deita ao seu lado
Absorvendo toda a esterilidade de seu novo amigo
De uma velha cabana escutamos os latidos e os estalos do fogo
Um pouco de luz e fumaça dançam na noite vertiginosa
O lenhador entediado no celeiro se abraça em sua linda cabra
Ignorando as farpas de seu dedo anular
Ignorando as moscas e o esterco do capim
Estrebuchando ratos as corujas iam tingindo seus bicos de um vermelho soberbo
E o filme terminava com um grande plano seqüência
De uma planície branca que não simbolizava absolutamente nada




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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Rendenção pós uterina


Aos crimes de nossos pais
Daremos uma festa
E para as crinas dos cavalos que esquecemos de lavar com shampoo
Daremos um destino hilário

Adormeçam as feras com dorflex e vinagre de maçã

tão quente

tão quente

Evaporaram-se as idéias e as mentiras

Para cada soldado morto podemos comprar um novo pirulito
Para cada novo remédio surgem vinte sete novas doenças

Sem saco para conversas de elevador


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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Lesmas


As lágrimas e a música do amor

As vaginas do mundo agradecem
Meus dedos compridos
Rachmaninoff devia ser o senhor da felicidade feminina então

Muros desenhados na genitália de uma cidade cansada
Cansada de sua própria mediocridade
Cansada de fungar e expelir algo que lembra purê de batata azedo

Sim
A cidade está gripada
Numa quase pneumonia
Que aumenta invisivelmente junto com o movimento das nuvens e das lesmas de jardim



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sábado, 6 de outubro de 2012

Massagem na sala vazia




Ela massageava meu pescoço
Tom Yorke soluçava sua falácia caída
Era uma sala quase vazia se não fosse por algumas cadeiras e o calor de nossos hálitos
Suas mãos que mediam 3 quartos da minha
Faziam movimentos concêntricos em meu pescoço triste
Tudo se movia na velocidade dos átomos
Éramos dois mamíferos no cio
Contemplando a luz da pequena janela
E nos confortando com a miséria de nossas paredes nuas



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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Toda escrotice merece perdão


Algumas coisas deveriam se manter apenas no imaginário

Nos ermos caminhos das formas sem sentido

Algumas coisas deveriam ser distantes e separadas pela eternidade

Soando perdidas ao som do vento como um hino em desuso

Com um odor peculiar de toda a escrotice das fendas e lamas que mergulho 




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