quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A meu pai

Quando pequeno eu contemplava
um cavalo alado,
que belo e refulgente
voava sobre uma praia.
Musas desconhecidas de
idéias reciprocas;
peixes vistosos que num
mar inexistente nadavam,
seres nodosos que
lutavam para existir
em um mundo saturnal.
O perfume das flores que
eu nunca senti, mas
que poderia facilmente
descrever suas fragrâncias
aveludadas e transcendentais.
E se hoje tenho visões surreais
posso dizer que foi herança
de meu pai.

Vã tentativa

Joguei meu coração no lixo,
achei que isso faria
eu me sentir bem melhor,
fiz até um pacto com
os deuses da frivolidade,
mas foi tudo em vão;
até na mais desolada
planície gelada pode haver calor
então porque seria diferente
em minha existência inerte?
Ainda arde uma centelha,
só resta saber se quero mante-la
ou tentar novamente apaga-la.

Ansiedade

Por muito tempo não senti
tão ínfima sensação de ansiedade,
aquela torpe apreensão que faz
os mais úmidos lábios secarem
e a mais seca das notas
reverberar de forma quase infinita.
Já não há mais porque temer o futuro
pois a mim ele parece bastante claro,
sinto-me pleno, mas ainda carrego
essa brumosa melancolia comigo.
Talvez morrerei assim, oscilante
entre essa dualidade de meu espírito.
As horas passam, mas não ouso
olhar o relógio, a baixa temperatura
do crepúsculo se aproxima, sei que
então vestirei minhas polainas escarlates
e sairei ao encontro de tão jubiloso luar.

Odioso licor

Na melancolia minha alma dorme,
palavras manjadas, cores sóbrias
lânguido caminhar, mesuras.
Esqueça o tempo, se tiver sorte
ele esquecerá de você também.
Sorte? Que blasfêmia, flores.
Espaçamento de longo e
palatável silêncio, lindos seios,
nuvens doces e inatingíveis
crepúsculo singular, a morte do amor.
A carcaça de meu passado,
odioso licor!

Pêssegos

No meu quintal
caem pêssegos amarelos.
Eles me olham orgulhosos,
mas meu coração confuso
não compreende que a
queda é um fato singular,
e se crio um mundo
é porque um dia eu irei
povoa-lo com estranhos seres
que eu mesmo imaginei,
colhendo frutos diretamente
de tão vistosos campos magnéticos.

O jardim das delícias

Hoje sonharei
com luzes e cores,
Visões premonitórias
do amanhã incerto,
Voarei no cavalo
alado de Boris
ao som doce
da flauta de Pam,
E quando finalmente
eu alcançar as nuvens etéreas
farei chover flores e maçãs,
para que o seu mundo
se torne, o jardim das delícias.