quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Flash back na aurora após sonhar com a juventude que se esvai


A gente só precisava de um show, um show com meia dúzia de cabeludos chapados em transe anacrônico para inflar nossos egos entediados. Caminhávamos à passo decidido, segurando uma pet dois litros municiada de Sprite e cachaça morna. De Mello fumava um Classic atrás do outro. Garcia carregava uma mochila vermelha que desaparecia em suas largascostas contendo nosso chorume santo. Eu seguia atrás, o mais jovem e mais convicto iludido da matilha.
Atalhamos pela moca, atravessamos  a névoa de cannabis e cumprimentamos civilizadamente desconhecidos de olhos em chamas. Adentramos no trilho de trigo triste, nos abaixamos na cerca e fomos atingidos no flanco esquerdo pelo laranja incandescente do fim de tarde. O copo de plástico deslizando de mão em mão cumpria o seu destino-efeito.
Depois da árvore torta, veio a curva e a pulada no segundo arame, avistamos o boteco vulgo pub da colina. Uma espelunca caída, mas era o que restava naquela cidade cor de mijo; a gente só precisava de um show, para provar que estávamos vivos e podíamos fazer barulho.


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