domingo, 18 de dezembro de 2011

O trompete verde da pequena Kim

A pequena Kim picava cogumelos em cubos na sua tábua de carne. A duzentos e setenta quilômetros dali um garoto magrelo imitava uma hiena em um ônibus ao lado de seu amigo que se babava de tanto rir.
Não tardaria para que a psilocibina prestasse suas magias. Sempre há um pé de alfafa para absorver as nossas mijadas.
Os ponteiros do tempo pareciam presos por grilhões e a pequena Kim brincava distraída com seu clitóris quando percebeu uma leve formigação em sua mão esquerda.
Os destroços do navio boiavam preguiçosos, fritando ovos sobre suas superfícies metálicas. Meus braços já quase se despencando do tronco sorriram histericamente quando as pontas de meus pés tocaram nos primeiros grãos de areia. Cai pesado entre conchas, espumas e tatuiras carameladas.
O vórtice havia voltado, como se já não me bastasse o convite de um amigável chá ele precisava sugar o meu medo. Com um esforço abrasivo eu reprimi meus fluxos neurais o quanto pude.
Meus bigodes ralos se empaparam com o sangue abundante que escorria pelas fendas de meu nariz.
A pequena Kim começava a sentir seus lábios tocarem suas orelhas. Sua risada se tornou o som de um trompete azul; ela sabia que um trompete azul tinha o som diferente de um verde.
Mas para todos os efeitos ainda era terça feira.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

7:41



A linha foi criada para suprir
A ausência da essência
Por trás de cada morro escondem-se
Sombras sem nome e sem passado
Parece tolo sentir saudade do impossível
Mas no fundo vermelho e silencioso das memórias
O impossível é a única coisa
Que vale a pena ser lembrada

                                                               





                                                                              ...............

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

o livro dos estranhos indiscretos

esfirras apimentadas
ela me leu poemas sobre as sobras da mesa
e discutimos sobre o vazio que dói
mordi a língua e beijei sua cicatriz
lembrei de uma música idiota e dei risada
revelei a construção de meu personagem
o enlevo de meu prazer
surtamos os dois e planejamos nos devorar
bem devagar
como um carrossel empoeirado
com pequenos pôneis sem rabos
aleluia irmão
todos abrem os olhos e dão as mãos


Para a garota que lê Fernando Pessoa para mim depois do almoço...

.,;.,

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A grande vadia

A grande vadia besuntou meus bigodes
com as suas melecas intra uterinas
a grande vadia me abraça em sonhos
inoculando seu veneno
pelas minhas veias curtidas
a grande vadia sorri e exala o cheiro
de todas as malícias do inferno
se idiotas fossem livros
hoje eu seria uma biblioteca
a náusea é o mal de todos que pensam
estou suando
me derretendo
seguro minha face na mão
mole como um pudim
leio filas e filas de merda
em forma de letras
eu entendo o que destroi minha sede
venha grande vadia
deixe que eu te abrace novamente
deixe que eu enterre mais uma vez
minha cabeça em seus grandes seios risonhos



.,;,.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

penugens


Eu adorava
Corromper a inocência daquelas jovens almas
Acariciar suas penugens claras
Com as pontas calosas de meus dedos
Arrancando suspiros como
Notas em semi tons
De suas boquinhas úmidas
Não se deve
Mostrar poemas a elas
É como tratar cães
com filé mignon


,.. .

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Os deveres da memória

Lembre daquelas noites frias
que eu chegava em casa
no mudismo da madrugada
soturno e furtivo com um gato
me esquivando pelos corredores embriagado
e sustentando meu peso nas paredes de cerejeira
Lembre de meu tênis salpicado de vômito
e do ar pestilento de meu cômodo
abrigando os venenos sulfurosos
de todas as ressacas do universo.

.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sedimentos

eu disse até logo
para as ondas do rádio

precisava escrever para me manter lúcido

precisava dizer antes que tudo acabasse

paredes e paredes de chocolate desmoronando à minha volta

beijos e flatos são iguais
ratos e cerejas são iguais
cabelos e mateiga são iguais
bunda e umbigo são iguais
morte e buceta são iguais

Deus poderia existir
apenas para eu rir da cara dele
e urinar nas feridas de seu filho


.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O verbo alimentar

alimente
minhas fantasias sórdidas

alimente
a máquina dos desejos da pequena kim

alimente
os pássaros de Hitchock

alimente
meu libido com os restos de alface entre seus dentes

alimente
com censura meus atos subvertidos

alimente
minha língua com a superfície de seu umbigo

alimente
a sinestesia da lua com mitos sensacionais

alimente
o sustento de minha ereção com o toque de seu cotovelo

alimente
a mesmice provinciana com o orgulho besta de seu ego


.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Perda

Meias negras
para este oito de setembro.
Lágrimas múltiplas para celebrar
a ausência de seu latido.

sábado, 27 de agosto de 2011

o ciclo insatisfeito

como um antílope em desatino
eu arroto cinco vezes
e me pergunto
qual o peso de uma ervilha
tão iguais
tão distorcidas
uma hora ou outra
você acorta com a boca roxa
palavras enigmáticas
um papo furado
anjos e acrobatas
uma ladainha de videntes e estatísticas
a elevação do espírito
que não me convém
vou esperar sua maçã
querida aluna
uma daquelas manchadas
com seu perfume e seu suor

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A língua dos gatos

eu disse a ela
que minha nova
escova era macia
ela disse
e daí
eu disse
as vezes o prosaico
pode ser interessante
os gatos tem
a língua áspera
mas conseguem o
que querem
com suas
brilhantes
órbitas negras

    Para alguém que arrota, sorri por nada e usa muita maquiagem.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

não há pudor em uma cereja

aspirei uma carreira grande
de chocolate com cereja
uma dessas que se
compra junto com
um punhado de beijos
e carícias púbicas
lendo sua carta
ela me comparava a um profeta
eu ri alto
e me imaginei
brincando com meus intestinos
correndo para o sul
deslizando sobre a lama
com passos concêntricos
lamentando o fato de ter sede
e não ter água
diga-me querido espelho
quantos dentes ainda restam
em minha boca

sábado, 16 de julho de 2011

A fada e o urso

Jamais uma floresta
viu um par tão esdrúxulo.
O contraste de suas existências
era um projétil abrasador
contra os conceitos morais
da sociedade das fadas.

E lá, no fundo de sua caverna musgosa
o urso e sua ninfa amante
de asas translúcidas
afundavam-se em uma poça nefasta
de carícias orgíacas.

Ofendidas com o insulto
de sua irmã rebelada,
as fadas uniram toda
a magia branca e negra
de todos os clãs do místico reino.
E num ato de vendeta e fúria
selaram com uma enorme rocha
a entrada da caverna.

Assim os olhos negros e azuis
da fada e do urso
jamais voltaram a ver
o sol.

Para Rebeca Youssef , a progenitora das narrativas insólitas.

sábado, 9 de julho de 2011

o fim?

Eu sou o porco obsceno
mais sincero que vai
passar pela tua vida.
Eu vou te olhar
de cima  a baixo.

Como um parafuso em transe

Como as cabras transam

Como um mastodonte senil
isolado da manada
e conformado
com a imensidão da morte
e com a desesperança da finitude.

sábado, 25 de junho de 2011

amarelo cerveja


Há tanta pressão!
Que procuro minha calma
Em um jardim de presunto.
Observando o gemidos
De quem não fala.
Seu cabelo tinha cheiro de mostarda
E era amarelo como cerveja

Conceitos de uma serpente.
Carne moída de primeira.
Ontem tentei me apaixonar
Impossível!
Comi um xis salada inteiro
Arrotei baixinho
E bati uma pensando na irmã
De meu melhor amigo.

Balearam um prefeito
Ele era gago
Mentiroso
E cagava mais do que devia
Todos queriam ver através
Da neblina de sábado
Mas era tão impossível
Quanto acreditar em suas palavras.

Seis garotas bebiam vinho
Animadas como ovelhas
Esperando para serem tosadas.
Elas me olharam
Interrogando.
Porque um porco
De barba rala
Passava horas escrevendo
Em um bloco bege?

Todos olhando!
Todos olhando!
Não surpreende.
Um morto não devia
Sentar à mesa de um bar
E pedir cerveja.
Um morto não devia
Trocar olhares intumescidos
Para a bunda de suas garotas.

Alguém havia me dito
Que era a espuma que embriagava.
Mas que mentira fudida!
Desculpas de começo de noite.
Meu pau clama
Pelas estudantes de arquitetura
Todas elas,
Todas elas com seus
Canudos de plástico preto.

Existem curvas perigosas.
O amor foi como um
Acidente.
Daqueles que te enchem de rubor.
Até mesmo no silêncio
De seu quarto.
Aquele mesmo quarto
Com meias amareladas
De porra
Dormindo embaixo de sua cama.

Eu imaginava todas
Elas trepando.
Devia ser a síndrome de Bunny
Esbravejando meu púbis.
Dedicamos um carinho
Hipócrita ao ultimo copo.
A última bola que cai
Na caçapa.
A estrofe final de um
Livro de duzentas páginas.
À última bala de banana
Que compramos aos
Dez anos de idade.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Laura

Existem 257 interpretações
para um beijo.
Mas para mim quase
todos eles tem gosto de pipoca.
A pessoa menos interessante
com quem conversei
se chamava Laura.
Laura alguma coisa
Laura bergamota
Laura boca torta
Laura coxa grossa
tanto faz,
só lembro que seus beijos
tambêm tinham
gosto de pipoca.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Para mostrar ao velho Camus

Apenas pele inchada
e erupções cutâneas.
Nada além de eco
de seu temor.
Jogue fora essa
caixa de diclofenaco;
o que preciso é de umas
boas três doses de Whisky
para esquentar essa
garganta cansada.
Para tremer os alicerces
do muro que aprisiona
o meu outro,
para mostrar ao velho Camus
minha simpatia pelas suas
inextricáveis interrogações
cotidianas.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Estive longe

Estive longe por muito tempo.
Há muito não escrevo poemas
em cascas de banana.
Amanhã, no vigésimo segundo
prelúdio de meus invernos
vou contar as gotas
e abrir garrafas aos dentes.
Eu a queria apenas como
uma boneca para apertar,
amar
dizer
sorrir
Estive longe de casa.
Estive confinado voluntariamente
em minha bolha de algas,
ejaculando meus desejos
e vendando meus olhos
ao que pouco me importava.
Eu dou ordem aos poucos,
eles me obedecem aos montes.
Sei que estive longe
mas agora
estou de volta.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Esqueça Tom Cruise

Chocolate quente como
 meios metanfetamínicos
de fugas ilegíveis.

Dentro de meu cofre
de mármore eu posso
estampar minha transparência
nessa camiseta amarela suada.

Lavei meu objeto fálico
duas vezes hoje
e você não quis me masturbar.
Eu compreenderia sueco
se você fosse paciente
para me ensinar madmoiselle!

Eu como patê de fígado
com queijo derretido
e penso em camarão ao molho.

Me interprete como um comediante.

Me defina como um encanto
rídiculo cor de rosa sabor aipim

Esqueça Tom Cruise,
não adie a bosta de seus prazeres.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Massa ao molho

Aquele garoto de muletas que eu conheci,
olhos claros, ombros caídos
seu sotaque ridículo.
Minha avó não tira
as vísceras da sardinha.
Acabou meu desodorante.
Humberto Garbo defecando
atrás do museu.
Já passa das quatro horas
quando ele me pede um cigarro.
Ignorem os ruídos.
Hoje acordei pensando
que estava bêbado.
As horas passaram
e eu percebi que estava louco.
Minha boca cheia de gordura.
Ruth maquiada como uma puta.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Velhos quadros

Estou farto de suar!
Frutos caem das árvores
e rolam pela terra
podres como as bolas
de um defunto.
Hoje comprei um livro novo,
" Os três porquinhos e a
fada da indecência".
Conheci uma porta
que falava
e uma mosca
que pedia silêncio.
Senti o cheiro de bueiros
após a chuva.
Senti saudade de meus
mundos vermelhos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

álcool em gel

Convençam as portas
de que elas não passam
de um pretexto do
comodismo racional.
Esperem pela correspondência branca.
Hambúrgueres plastificados
e álcool em gel para matar
os vestígios fecais de
suas mãos.
Abra suas escotilhas
auditivas para escutar
o clube negro dos motoqueiros rebeldes.
Você me encarando
no mercado.
Eu apalpando sua nudez
em meu sofá.

Miasmas

Estou me desmanchando
de ressaca.
Céus, hoje acordei poético
como uma mula arrombada.
Não me negue seu fumo,
vamos brindar as sacolas
de supermercado .

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O amargo churrasco

De tanto serem espancados
os jumentos acabaram
apáticos como o inverno.

Amaria sua filha
de joelhos se ela
me ignorasse.
A rejeição é uma
boca chupadora indecente.

Proclamo agora liberdade
condicional aos ouriços do mar.
Estufo o peito como
um esquilo prestes
a arrotar suas profecias.

Pedindo aos espelhos o
amor de Anabelle Ribeiro
projetei frases ilegíveis
para minha lápide verde.

O amargo churrasco
que eu jamais comi.
Fale comigo vento diluviano.
Toque mais uma vez,
a minha caixa de música chinesa.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

meu balde

Há dois anos atrás criei esse blog. Precisava de algo que servisse como um balde para depositar os meus frêmitos vomitivos; e como não bastava apenas despejar essas injúrias eu ainda nescessitava arremessá-las violentamente contra a face daqueles que aqui adentram.
Obrigado a todos que visitam, que comentam, que espiam com cara de nojo, que gargalham, que desprezam, que lacrimejam, que compreendem, que acham absurdo, que juntamente comigo deitam e rolam na relva abraçados nessa vadia imunda chamada sinceridade.
Dois anos de ASPPIRINA, hoje vou tomar um porre; para comemorar ou para esquecer... De qualquer forma a vida não passa de um punhado de argumentos e desculpas flatulentas para nos entorpecermos todos os dias.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Passagem de fim de tarde

Simplesmente eu
caí em minha cama
e comecei a me decompor
como um cão morto ao sol.
E todas as moscas e larvas
que se juntavam a mim
nesse ritual de passagem biológica,
promoviam oferendas e cânticos
que me confortavam,
como a esponja molhada
que atenua a dor do condenado
ao assento elétrico.
Todos os fluidos agora são vapor,
toda a consciência agora é sonho.
Livros não lidos.
Ruídos esquecidos.
Ouça o eco infindo,
da balsa em que navego.

Enquanto eu mordiscava um pão com carne

Faço piada
com meus defeitos
esse é com certeza
o meu maior defeito.
O mais irônico
dos peixes é aquele
que não sabe nadar.
Se conformem os tolos
Que flutuem as pedras
Nenhum pingo de chuva
é igual ao outro.
Mas afinal de contas
ao término
do intervalo
No overture fondu de nosso rastejar;
que saibamos já agora,
somos apenas água.