quinta-feira, 29 de março de 2012

Síndrome de Florença




Tanta tensão entre meus polegares
E aqueles lenços epidérmicos
Tanta loucura rastejando em busca de ventosas e orifícios
Um dedo que toca um braço; um hálito que sopra um tormento.

O novo decreto será:
Doses de coerência grátis no boteco da esquina
E a libertação dos golfinhos acrobatas.
Um chute no baço da covardia
Um vórtice azul e cheio de areia se arregaçando
Como a vulva de uma gestante terminal.

Me retesando nas máscaras de Giacometti virei a noite
A passos descuidados corrompendo minha memória
Com frutas que mancharam minhas roupas.
Ambivalência e estranhas circunstâncias, esquecer é tão belo
Como o sorriso senil do quadro
de um poeta em crise
com síndrome de Florença.


.I.

quinta-feira, 22 de março de 2012

um poema

O blues do perdedor sacode em minha garganta
Muita espuma e pouca virtude
O telefone tocando
Uma égua dizendo alô
Posso apagar agora ou em dez segundos
O disquete é cult
Tua foto é cult
Thurston Moore é cult
Teu cú enrugado é cult
Machas em minhas mãos
Aquela gordinha sexy branquela rebolando em meu carpete
Onde se pode ler cartas
Onde se pode lamber feridas
Onde se pode homenagear três deuses de uma só vez
Quinta feira do cacete
Horas e minutos em honras de cetim
Ah! Eu te amo
Desculpe, não avisei, mas isso era um poema de amor.

sábado, 3 de março de 2012

A triologia das vontades


Os seres humanos, aqueles que na minha opinião deveriam ser encoleirados pelos cães e chicoteados por cavalos, são seres frágeis e vulneráveis, escravos de ímpetos ancestrais e hediondos. E para homenagear estas bestas de polegares opositores e egos exaltados escrevi três poemas denominados:
 A triologia das vontades.

A ereção.

A fome.

O sono.




Ereção

Algumas poucas fossas
Para bebericar no verão do norte
Por todos os povos e neuroses
Vamos afundando nossas bundas e
Praticando velhos ofícios de segmentos territoriais

Assisti uma peça interminável sem atores

Um oceano doce de algas deslocadas

Me encaixei na árvore de natal
E me senti a mais vermelha das bolas
Falando em bolas
Não posso te abraçar agora.



Fome

A distensão dos músculos
Pode ser comparada a um enigma
Antropológico indecifrável
Venerei a carne por cinco séculos
Cinco séculos fermentando em uma lixeira

Os sacerdotes me advertiram
Dos perigos de um copo vazio
Debruçando minhas pálpebras
Sobre suas fotos eu pensei encontrar
A perfeição do universo

Queimem os livros
Matem os fotógrafos
Façamos um filme com um final sinistro
Um final tão distante do real
Quanto possa alcançar seu apetite.



Sono

Goya tentando decifrar
Os enigmas da razão
Ele devia estar com muito ópio na cabeça
Ou o saturnismo já molestava seu crânio

O livro das ovelhas não me trouxe o sono
Minhas mentiras eram curtas
E minhas pálpebras,
As futuras portadoras do sonho,
Já se entediavam com as cores

E era da garrafa dos sonhos que
Eu precisava tomar um longo porre.
Para ler baixinho os poemas de Pierre
E mandar ao cú do cavalo
Toda a linearidade.



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