sábado, 3 de março de 2012

A triologia das vontades


Os seres humanos, aqueles que na minha opinião deveriam ser encoleirados pelos cães e chicoteados por cavalos, são seres frágeis e vulneráveis, escravos de ímpetos ancestrais e hediondos. E para homenagear estas bestas de polegares opositores e egos exaltados escrevi três poemas denominados:
 A triologia das vontades.

A ereção.

A fome.

O sono.




Ereção

Algumas poucas fossas
Para bebericar no verão do norte
Por todos os povos e neuroses
Vamos afundando nossas bundas e
Praticando velhos ofícios de segmentos territoriais

Assisti uma peça interminável sem atores

Um oceano doce de algas deslocadas

Me encaixei na árvore de natal
E me senti a mais vermelha das bolas
Falando em bolas
Não posso te abraçar agora.



Fome

A distensão dos músculos
Pode ser comparada a um enigma
Antropológico indecifrável
Venerei a carne por cinco séculos
Cinco séculos fermentando em uma lixeira

Os sacerdotes me advertiram
Dos perigos de um copo vazio
Debruçando minhas pálpebras
Sobre suas fotos eu pensei encontrar
A perfeição do universo

Queimem os livros
Matem os fotógrafos
Façamos um filme com um final sinistro
Um final tão distante do real
Quanto possa alcançar seu apetite.



Sono

Goya tentando decifrar
Os enigmas da razão
Ele devia estar com muito ópio na cabeça
Ou o saturnismo já molestava seu crânio

O livro das ovelhas não me trouxe o sono
Minhas mentiras eram curtas
E minhas pálpebras,
As futuras portadoras do sonho,
Já se entediavam com as cores

E era da garrafa dos sonhos que
Eu precisava tomar um longo porre.
Para ler baixinho os poemas de Pierre
E mandar ao cú do cavalo
Toda a linearidade.



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Um comentário:

  1. este velho escritor ,
    sentado à frente de uma lareira,
    com certeza,
    escreve como alguém que já foi, jovem...

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