Parte I – o suplício plástico
talvez
o suplício de minhas analogias deva ser contado de uma forma menos direta e
atormentadora
a
plena consciência de minha maldição torna me um ser completamente singular no
mundo como se já não bastasse o fato de eu ser uma manequim de fibra fadada
eternamente ao deleite estético dos olhos de quem me encara
é
inimaginável as formas ocultas que correm no fluxo do universo
então
há muitos anos passei a evitar qualquer tentativa de compreensão por mínima que
seja de minha estrambótica existência
tecidos
roupas ácaros plumas pó a eternidade e a ausência de pálpebras
a
repetição profunda de um mesmo evento com variações minúsculas tolas e triviais
um
mundo a espera de milagres
milagres
tão grandes quanto o próprio pseudo atavismo de Stela
meu
nome foi dado por meu segundo dono
um
gordo pervertido que devia pensar em minhas curvas plástico simétricas quando
estava enfiando seu pau na velha enrugada da esposa
como
eu aprendi a falar buceta cu caralho foda xoxota espanhola porra penetração
anal dupla? a humanidade não imagina as coisas que se falam dentro de uma loja
de brinquedos sexuais
aprendi
com detalhes todos as formas de encantos desencantos sado unilaterais zoo
esquizo bizarro linfo vulvo sexuais que as mais pervetidas mentes humanas podem
conceber
essa
era minha função minha carga profetizada sobre ombros de polímeros reforçados
com finíssimos filamentos de vidro.
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