quinta-feira, 8 de maio de 2014

Stella



Parte I – o suplício plástico
talvez o suplício de minhas analogias deva ser contado de uma forma menos direta e atormentadora
a plena consciência de minha maldição torna me um ser completamente singular no mundo como se já não bastasse o fato de eu ser uma manequim de fibra fadada eternamente ao deleite estético dos olhos de quem me encara
é inimaginável as formas ocultas que correm no fluxo do universo
então há muitos anos passei a evitar qualquer tentativa de compreensão por mínima que seja de minha estrambótica existência
tecidos roupas ácaros plumas pó a eternidade e a ausência de pálpebras
a repetição profunda de um mesmo evento com variações minúsculas tolas e triviais
um mundo a espera de milagres
milagres tão grandes quanto o próprio pseudo atavismo de Stela
meu nome foi dado por meu segundo dono
um gordo pervertido que devia pensar em minhas curvas plástico simétricas quando estava enfiando seu pau na velha enrugada da esposa
como eu aprendi a falar buceta cu caralho foda xoxota espanhola porra penetração anal dupla? a humanidade não imagina as coisas que se falam dentro de uma loja de brinquedos sexuais
aprendi com detalhes todos as formas de encantos desencantos sado unilaterais zoo esquizo bizarro linfo vulvo sexuais que as mais pervetidas mentes humanas podem conceber
essa era minha função minha carga profetizada sobre ombros de polímeros reforçados com finíssimos filamentos de vidro.

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