domingo, 30 de março de 2014

Sobre as manhãs

passei a detestar aquelas exasperações de humor pela manhã
percebi que sempre eram tão passageiras quanto punhetas ao vento
ali no colchão do alvorecer, entre cabelos alheios e passagens bíblicas distorcidas
eu me refestelava como um gato no sol
temendo as próximas horas
cantando para mim mesmo o hino de minha nação perdida particular
aquela em que eu havia me tornado o único habitante
o único soldado combatente
o único perdido sobrevivente de um holocausto interior
me deixava ir mais tarde até a beira das águas sem ondas de uma praia próxima
sobrevivendo mais um sábado
esperando os restos de arroz da lixeira mais próxima
assim habitei esta terra escarnecida por duzentos anos
esperando
sempre esperando
paraísos são artificiais
a prova irrefutável da miséria e do desespero humano gratuito




;.

Nenhum comentário:

Postar um comentário