A gente só precisava de um show, um show com meia
dúzia de cabeludos chapados em transe anacrônico para inflar nossos egos entediados.
Caminhávamos à passo decidido, segurando uma pet dois litros municiada de Sprite
e cachaça morna. De Mello fumava um Classic atrás do outro. Garcia carregava uma
mochila vermelha que desaparecia em suas largascostas contendo nosso chorume
santo. Eu seguia atrás, o mais jovem e mais convicto iludido da matilha.
Atalhamos pela moca, atravessamos a névoa de cannabis e cumprimentamos civilizadamente desconhecidos de olhos em chamas.
Adentramos no trilho de trigo triste, nos abaixamos na cerca e fomos atingidos
no flanco esquerdo pelo laranja incandescente do fim de tarde. O copo de plástico
deslizando de mão em mão cumpria o seu destino-efeito.
Depois da árvore torta, veio a curva e a pulada
no segundo arame, avistamos o boteco vulgo pub da colina. Uma espelunca caída,
mas era o que restava naquela cidade cor de mijo; a gente só precisava de um
show, para provar que estávamos vivos e podíamos fazer barulho.
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